Brasil enfrentou a pior seca em 70 anos; impactos ambientais e econômicos se agravaram

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Em setembro de 2024, 4.748 cidades brasileiras enfrentavam algum grau de seca, sendo 1.349 em condições severas ou extremas

Em 2024, o Brasil viveu a maior seca dos últimos 70 anos, tanto em intensidade quanto em extensão territorial. Segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), as áreas atingidas pela seca somam cerca de 5 milhões de km², o equivalente a 58% de todo o território nacional. O fenômeno afetou a disponibilidade hídrica, agravou incêndios florestais e comprometeu a produção agropecuária, além de gerar prejuízos para comunidades indígenas e ribeirinhas.

O monitoramento do Cemaden revela que 2024 superou secas históricas, como as de 1998 e 2015/2016. Essa última, por exemplo, atingiu 4,5 milhões de km². Desde a década de 1990, períodos de seca extrema vêm se intensificando, refletindo as consequências das mudanças climáticas e da degradação ambiental no Brasil.

O estudo do Cemaden utilizou o Índice de Precipitação Padronizado de Evapotranspiração, que considera a quantidade de chuvas e a perda de água por evaporação e transpiração das plantas. A elevação das temperaturas, impulsionada pelo aquecimento global, contribui significativamente para o aumento da evapotranspiração, reduzindo ainda mais a disponibilidade hídrica.

Em setembro de 2024, 4.748 cidades brasileiras enfrentavam algum grau de seca, sendo que 1.349 estavam classificadas em condições severas ou extremas. Segundo o Cemaden, o número de dias consecutivos sem chuva ultrapassou 120 em várias regiões, ampliando os danos à agricultura e às comunidades locais.

Amazônia, Cerrado e Pantanal

Os biomas brasileiros também enfrentaram níveis recordes de seca e incêndios em 2024. Na Amazônia, os rios atingiram os menores níveis históricos, com 85 mínimas registradas na Bacia do Rio Amazonas entre setembro de 2023 e outubro de 2024, segundo o Serviço Geológico do Brasil. Em Manaus, o Rio Negro chegou ao menor nível em 122 anos de medições.

O Pantanal também enfrentou sua pior seca em décadas. Em Ladário (MS), o nível do Rio Paraguai caiu para -69 cm, superando o recorde de -61 cm registrado em 1964. O bioma sofreu grandes perdas na biodiversidade e na economia local, com impactos na pesca, turismo e pecuária.

O Cerrado, por sua vez, registrou aumento de 64,2% nos focos de incêndio em relação a 2023, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Entre janeiro e novembro, 79.599 focos de calor foram detectados, o maior número desde 2012. A destruição do Cerrado tem efeitos em cadeia, afetando a Amazônia e o Pantanal ao reduzir a disponibilidade de água e intensificar os impactos da crise climática.

Impactos econômicos e sociais

Segundo especialistas, a seca prolongada afeta diretamente a agropecuária, especialmente as culturas de milho e feijão, que sofrem perdas expressivas devido à falta de chuvas. O impacto se estende à economia, com alta nos preços dos alimentos e redução da produtividade agrícola, prejudicando milhões de brasileiros.

Comunidades indígenas e ribeirinhas também enfrentam dificuldades. Em agosto de 2024, 45 terras indígenas estavam em condição de seca extrema, enquanto 161 registraram seca severa, afetando o acesso a recursos básicos como água potável e alimentos.

“O desmatamento e a degradação ambiental estão agravando os efeitos das mudanças climáticas, criando um ciclo vicioso que intensifica a seca e os incêndios”, alerta a diretora de Estratégia do WWF-Brasil, Mariana Napolitano. “A Amazônia, por exemplo, já perdeu 18% de sua cobertura florestal, comprometendo sua capacidade de produzir chuvas e umidade.”

Amazônia em risco

Especialistas alertam que a Amazônia está próxima de atingir um ponto de inflexão, onde deixará de funcionar como floresta tropical e se transformará em um ecossistema mais seco e degradado. Isso teria consequências catastróficas para o regime de chuvas na América do Sul e para o equilíbrio climático global.

“O Brasil precisa adotar políticas consistentes para proteger seus biomas. Sem ações integradas de conservação, os impactos climáticos serão ainda mais devastadores”, destaca o especialista em conservação do WWF-Brasil, Daniel Silva.


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