Lula atrai aliados com troca de ministérios, mas não garante apoio de todos os parlamentares de dentro das legendas
O Congresso Nacional começa a nova legislatura com um perfil mais conservador, sobretudo em razão da eleição de maioria de representantes de direita e centro-direita. A configuração deve dificultar a articulação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, mesmo negociando cargos para atrair apoio, inicia o governo em meio à necessidade de enfrentar uma oposição numerosa.
Ainda que derrotado na disputa presidencial, o PL nunca esteve tão forte no Legislativo. São 99 deputados e 13 senadores da legenda, um incremento de 30% na Câmara e de 8% no Senado em comparação à legislatura anterior. Somado aos outros partidos mais conservadores, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve encontrar uma oposição formada por 231 deputados e 33 senadores.
O número é suficiente para barrar, por exemplo, aprovação de propostas de emenda à Constituição, que exigem três quintos dos votos dos deputados (308) e dos senadores (49). “Nossa bancada no Congresso fará uma oposição certeira, construtiva, verdadeira e responsável”, declarou o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto.
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Bancada da Câmara
Na Câmara, o partido de Bolsonaro detém a maior bancada. Com 19 deputados a menos, o PT fica em segundo lugar, considerando na conta o PCdoB e o PV, partidos que fizeram coligação com a legenda de Lula nas eleições.
No Senado, o PL deixou de liderar a bancada depois de perder senadores para o PSD. Agora, são 13 senadores no principal partido de oposição contra 16 do PSD, legenda do candidato à reeleição Rodrigo Pacheco (MG), que tem apoio do governo para continuar no cargo.
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Bancada do Senado
Em relação às alianças de Lula, incluindo partidos que receberam cargos ministeriais, o novo governo conta com o apoio de 282 deputados e 48 senadores. O número é maior do que quando Lula assumiu o primeiro mandato, em 2003. À época, 244 deputados e 25 senadores apoiavam o petista. Apesar de o número sinalizar governabilidade para a gestão, parlamentares cujos partidos foram beneficiados por Lula não necessariamente garantem fidelidade ao novo governo.
Pluralidade dentro dos partidos
O MDB — que se aproximou de Lula ainda no segundo turno, com apoio de Simone Tebet, agora ministra do Planejamento e Orçamento — é exemplo de um partido que não tem adesão total a Lula. Os deputados gaúchos Osmar Terra e Alceu Moreira são emedebistas ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
No União Brasil, a divisão é ainda mais evidente, sobretudo porque o partido é fruto da fusão entre Democratas e PSL, legenda de direita à qual Bolsonaro foi filiado. O senador eleito Sergio Moro (PR) e Soraya Vieira Thronicke (MS) já indicam oposição a Lula. “O Brasil pode, no futuro, ter algo melhor e sem o histórico de corrupção que existiu no governo PT”, disse Thronicke, e completou que fará uma “oposição racional” à nova gestão.
O PSD também segue a tendência de divisão. Suplente de Marcos Rogério (PL), Samuel Araújo saiu do partido de Bolsonaro e ingressou no PSD, mas não mostra tendência de apoio a Lula. Dentro da própria base, legendas menores, como Avante, PV, Solidariedade e Pros, sinalizam descontentamento por ficarem de fora da divisão de cargos na Esplanada.
O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT), admite ser impossível “montar governo e base sem conviver com esses problemas”. “É natural que os partidos aliados e aqueles que vão dar sustentação política ao governo façam seus pleitos”, continua Guimarães, e afirma que não é possível atender a todos os pedidos.
Desafio
Em meio à nova configuração do Congresso, os articuladores políticos de Lula têm a missão de reduzir as resistências, com o objetivo de emplacar as propostas de governo. “A nossa expectativa é trabalhar muito, compor uma base sólida, dialogar e respeitar o parlamento”, afirma Guimarães.
Ter o apoio das presidências das duas casas é estratégico. O PT já declarou apoio à reeleição tanto de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) quanto de Arthur Lira (PP-AL).
A eleição de Lira está encaminhada, mas Pacheco, apesar de favorito, deve ter disputa apertada com Rogério Marinho (PL-MS). Marinho promete fazer oposição ao Planalto e retomar uma atuação mais independente e ativa por parte do Legislativo se for eleito.
“Temos, hoje, um governo que nos assusta com sua volúpia de desmonte do Estado brasileiro em vários segmentos. Há uma preocupação muito grande de um número significativo de parlamentares que se contrapõem a essa agenda de atrasos, retrocessos, aparelhamento do Estado”.