O real foi uma das moedas que mais se desvalorizam frente o dólar nesta quarta-feira; para analistas, medida diminui efetividade de corte de gastos
O dólar alcançou o maior valor nominal da história do Plano Real nesta quarta-feira, aos R$ 5,9124, em alta de 1,8%. O recorde no preço veio horas antes do anúncio do pacote de revisão dos gastos públicos. O valor desta quarta superou a então máxima, de R$ 5,9007, alcançada em 13 de maio de 2020, no auge da pandemia de covid.
A notícia de que a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil estará no pacote de medidas deixou o mercado desconfiado sobre a fonte de recursos para custear essa oneração, e provocou uma corrida dos investidores para o dólar. Na máxima do dia, a moeda foi cotada a R$ 5,9288.
— O custo dessa medida é suficiente para praticamente anular a economia com o pacote, na visão do mercado — diz Gustavo Okuyama, gestor de renda fixa da Porto Asset.
A maior cotação intradiária (enquanto o mercado de negociação está aberto) já alcançada foi de R$ 5,9712 em 14 de maio de 2020, no dia seguinte do fechamento recorde. O valor de fechamento desta quarta-feira é o maior da história de todo o Plano Real, que possui pouco mais de 30 anos.
Para Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, a divulgação da isenção de IR é um contraponto num momento em que os investidores aguardam por um corte:
— É um anúncio bastante ruim. Vem um anúncio justamente ao contrário (do esperado corte), com redução de arrecadação. A alta do dólar ela está respondendo muito a essa questão que ainda não se sabe se vai ser efetivada.
Frente a moedas mais líquidas, o real era a segunda divisa que mais se desvalorizava em relação ao dólar, perdendo apenas para o rublo russo, que caía 6,9% por volta de 14h.
Já o Ibovespa acompanhou a piora no sentimento dos investidores e recuava 1,51%, a 127.960 pontos, às 15h43. Os juros futuros subiam mais de 3% nas pontas média e longa da curva, com o mercado já precificando Selic acima de 14% no final do ciclo de altas do Banco Central.
Patamar elevado
A moeda americana opera acima dos R$ 5 desde o fim de março. Em abril, o governo revisou o arcabouço fiscal, permitindo que, em 2025, a diferença entre o que o governo arrecada e o que gasta, exceto os juros da dívida, fiquem no zero a zero. Antes, era esperado um superávit de 0,25% do PIB.
Analistas apontam que medidas factíveis para o controle dos gastos públicos são fundamentais para combater a relação da dívida sobre o PIB. Em julho, o governo anunciou um congelamento de R$ 15 bilhões para tentar frear o avanço dos gastos públicos e atingir a meta zero de déficit, estabelecida pelo arcabouço.
Para Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, as medidas a serem anunciadas para combater o ritmo de crescimento das despesas obrigatórias precisam alcançar “um ajuste de pelo menos R$ 40 bilhões para 2025”.