País chegou à sétima posição entre os maiores resultados do segundo trimestre de 2022, segundo ranking da Austin Rating
Com o crescimento de 1,2% no segundo trimestre de 2022, o avanço da economia brasileira superou o de países que integram o grupo das sete nações mais ricas, como Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.
O PIB (Produto Interno Bruto) — soma de todos os bens e serviços produzidos em uma nação — tanto dos EUA quanto do Reino Unido sofreu contração econômica de 0,2% e 0,1%, respectivamente, enquanto na Alemanha houve leve avanço, de 0,1%. No Japão e na França, o PIB cresceu 0,6% e 0,5%, respectivamente.
No Brasil, foi a quarta variação trimestral positiva consecutiva, consequência do valor de R$ 2,404 trilhões alcançado entre os meses de abril e junho.
Com isso, o país chegou à sétima posição entre os maiores resultados do segundo trimestre de 2022. Segundo o ranking da Austin Rating, desde o quarto trimestre de 2021 o Brasil tem figurado entre os dez países com melhor desempenho. Em março deste ano, estava na décima posição.
Para Juliana Trece, pesquisadora do Ibre FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), o crescimento foi forte, dentro do esperado, conforme os indicadores como a melhora do mercado de trabalho, que acaba colaborando para esse desempenho da economia. Mas a perspectiva é de uma desaceleração nos seis últimos meses do ano.
“Acredito que teve impacto, mas a gente deve ter uma desaceleração da economia no segundo semestre. Por mais que no segundo trimestre o Brasil tenha crescido mais que algumas economias avançadas, a gente vê que a projeção para o ano de 2022 está em linha, mais ou menos parecida com à dos outros países. Os Estados Unidos tiveram recuo e nós crescimento. Mas, no ano, a gente está com projeção de 2%, talvez um pouco mais. E os EUA também estão por volta de 2,6%”, avalia a economista.
O resultado positivo confirma a melhora das expectativas do mercado financeiro em relação ao crescimento da economia nacional neste ano. A última divulgação do BC (Banco Central) mostra que o PIB fechará 2022 com alta de 2,1%. Mas novas revisões das projeções para este ano já indicam crescimento de 3%.
A expectativa para o ano que vem, de acordo com a economista, é de dificuldades na economia, por causa da iminência de uma recessão global. “A gente está vendo que muitos países estão aumentando as taxas de juros, e isso afeta a atividade econômica e deve fazer com que a economia do mundo inteiro desacelere. Por exemplo, nas exportações brasileiras, nosso maior parceiro comercial é a China. Se a China desacelerar, a gente vai sentir na nossa economia. Isso é algo estrutural que, para o ano que vem, a gente deve enfrentar essa dificuldade.”
Ela explica que no segundo semestre a atividade econômica não deverá crescer da mesma maneira que cresceu nos seis primeiros meses do ano, porque muito desse crescimento foi pela normalização da economia por causa do fim das restrições causadas pela pandemia de Covid-19.
“A reabertura econômica acabou impulsionando a demanda reprimida. Mas, por outro lado, a taxa de juros já está elevada no Brasil desde o início do ano e a gente tem um efeito defasado na atividade econômica. Isso a gente deve sentir no terceiro trimestre e mais fortemente até no quarto trimestre, o que acaba impactando muito a taxa de investimento. O investidor para de adquirir novos bens e aumentar a capacidade produtiva. Com juros elevados, ele diminui o impulso porque fica mais caro adquirir esses bens ou contratar novos empregados, por exemplo”, explica Juliana.
O economista Rodolfo Margato, da XP, afirma que houve uma série de surpresas positivas com o resultado do PIB, de 1,2%, acima da projeção de 1% e do consenso de mercado, de 0,9%, além de ser um crescimento disseminado entre os componentes.
Na avaliação dele, os principais fatores explicativos desse bom crescimento no Brasil no trimestre passado foram a recuperação sólida do mercado de trabalho, a reabertura econômica com efeitos positivos sobre algumas atividades de serviços prestados às famílias, de tranporte e armazenagem, entre outros, e os estímulos fiscais de curto prazo, como a liberação do saque extraordinário do FGTS, o pagamento antecipado do 13º salário aos segurados do INSS e um novo cronograma de pagamento do abono salarial.
De forma geral, segundo ele, essa performance acima de outras economias, até mesmo de países desenvolvidos, reflete o atual momento, com força do mercado de trabalho, estímulos fiscais e a reabertura, que acabam impulsionando os setores.
“Ao contrário do ano passado, não enfrentamos crise hídrica, seca ou outros choques negativos, que a gente vê outras regiões enfrentando, como a Zona do Euro, com grave crise energética relacionada ao fornecimento de gás, ou na China, com problemas de seca, surto de Covid-19 e política de contenção do contágio. Apenas alguns fatores para explicar diferenças dessa dinâmica mais recente do PIB do Brasil vesus outras regiões”, analisa Margato.
Para ele, a perspectiva até o fim de 2022 tem viés de alta. A projeção atual é de 2,2%, mas será revisada para um crescimento mais forte, entre 2,5% e 3%, após as informações divulgadas sobre as contas nacionais do segundo trimestre. Apesar disso, está prevista uma desaceleração do ritmo de crescimento no segundo semestre.
Os dados do Sistema de Contas Nacionais Trimestrais mostram também que o PIB nacional figura no segundo patamar mais alto da série histórica do IBGE, atrás apenas do alcançado no primeiro trimestre de 2014.
O economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, considera que a comparação entre os países é difícil de ser feita, principalmente num período curto. Ele explica que os países desenvolvidos conseguiram se recuperar da pandemia antes, tiveram algumas quedas menores e se recuperaram melhor em 2021. No caso do Brasil, esse resultado é mais positivo porque houve um resquício de reabertura econômica em 2022, ou seja, os serviços só voltaram a se recuperar com mais força neste ano. Consequentemente, isso afeta o PIB.
“E também tem a questão das medidas do governo federal em ano eleitoral, que estimulam a atividade de maneira artificial e reduzem as pressões inflacionárias. A gente está falando de várias medidas que injetaram dinheiro público na economia sem pensar na questão fiscal, que tem ajudado o PIB a crescer mais no ano de 2022, com expectativa pior para o ano de 2023”, afirma Imaizumi.