Taxa básica de juros no maior nível desde 2017 estimula busca por investimentos “mais seguros”, com alta liquidez e lastreados pela Selic
Para realizar alguns sonhos, como viagens, ou comprar um imóvel próprio, a produtora audiovisual Lívia Silva, de 28 anos, prefere manter seu dinheiro em um ambiente “mais seguro”. A jovem usa apenas investimentos de alta liquidez e lastreados pela Selic. Assim, ela mantém suas economias no CDB de um banco digital.
Para ela, mesmo guardando dinheiro para realizar projetos de longo prazo, no futuro, investir na Bolsa de Valores está fora de cogitação. “Eu gosto de saber que posso usar meu dinheiro a qualquer momento. Além de não ter medo de que o preço caia e eu vá ‘perder’ nada do dia para a noite”, diz.
A visão de Lívia é compartilhada por milhares de jovens no Brasil, que no último ano têm deixado de diversificar seus investimentos na Bolsa diante de um cenário não muito “convidativo” no mercado de capitais.
Um levantamento feito pela B3 mostra que a idade média do investidor na Bolsa de valores vinha em trajetória de queda, recuando quase 11 anos desde 2016 até 2021, passando de 49,66 anos, para 37,93 anos, mostrando um rejuvenescimento na Bolsa. No ano passado, no entanto, esse indicador voltou a subir. Ao analisar o número total de investidores pessoa física, em 2022, a B3 registrou uma idade média de 39,68 anos de idade.
Na comparação entre os anos, em 2021, a B3 tinha pouco mais de 5 milhões de brasileiros com contas cadastradas na B3, dos quais 62% dos investidores tinham menos de 40 anos de idade. Já em 2023, conforme os últimos dados da B3, o porcentual de contas de pessoa física cadastradas para a mesma faixa etária é de 59% do total de contas.
Apesar do curto espaço de tempo, esse “envelhecimento” do perfil na B3 também se mantém quando analisados os dados preliminares para 2023. Nos dois primeiros meses deste ano, a idade média do público subiu para 40,48.
Cenário ruim
Cauê Mançanares, CEO da gestora de investimentos Investo, diz que 2022 foi um ano atípico que afastou investidores. “O ano passado foi o pior ano desde 1971 para rendimentos em renda variável e renda fixa. Para muita gente, é difícil de ‘engolir’ uma performance muito ruim depois de 14 anos de alta nos mercados globais. Todos os investidores têm se afastado da Bolsa por medo, não só os jovens.”
Para Jayme Carvalho, da Planejar, não só o jovem, mas o público em geral têm olhado mais para a renda fixa em 2023. O planejador afirma ainda que, independentemente da idade, o investidor precisa ter clareza em relação aos motivos que o levam a investir para obter os melhores resultados no prazo desejado.
Marília Fontes, da Nord Research, ressalta que a fuga de jovens da Bolsa tem ligação com o aumento do desemprego entre as pessoas com menos de 40 anos. “O que mais percebo é gente querendo complementar a renda na aposentadoria. A bolsa não ficou tão bem e muitas pessoas foram para títulos de longo prazo e de aposentadoria”, diz.
Já Marco Noernberg, da Manchester, diz que os ciclos de alta e queda da Bolsa pode “assustar” os jovens investidores. “Neste momento, nada favorece a bolsa de valores.”