Avaliação é feita por especialistas depois de três homens presos a 491 dias serem soltos neste sábado
Entidades israelenses avaliam que a libertação de três reféns do Hamas em estado grave de desnutrição pode complicar o andamento do acordo de cessar-fogoe a saída de Israel da Faixa de Gaza. Isso porque, após 491 dias em cativeiro, os reféns Eli Sharabi, Or Levy e Ohad Ben Ami foram libertados em condições de saúde alarmantes, segundo relatado pelos hospitais que os receberam nesse sábado (8).
Diante do cenário, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que as “imagens chocantes” dos reféns libertados não ficarão sem resposta. O presidente israelense, Isaac Herzog, classificou a exibição dos prisioneiros pelo Hamas como “um espetáculo cínico e cruel” que configura “um crime contra a humanidade”.
Para o historiador e professor da StandWithUs Brasil, Daniel Osowicki, é visível a diferença do estado de saúde dos três últimos reféns libertados em relação aos outros já soltos pelo grupo terrorista. “Estavam com muita desnutrição, o que chocou muito a sociedade israelense e também as autoridades, como o primeiro-ministro”, pontuou.
Segundo ele, isso pode colocar algumas travas no acordo de intercâmbio de reféns. “Talvez Israel decida manter por mais tempo posições dentro da Faixa de Gaza. A gente tem que lembrar que esse acordo de intercâmbio de reféns, de cessar-fogo, tem como objetivo final a retirada completa de Israel da Faixa de Gaza. Então, agora nas circunstâncias que esses reféns foram entregues, isso pode travar, criar obstáculos de alguma forma para essa retirada”, observou.
De acordo com o professor, outra possibilidade é que “Israel não liberte prisioneiros palestinos, principalmente devido à diferença de número de prisioneiros [entre Hamas e Israel]”.
Direito de defesa
Presidente da Conib (Confederação Israelita do Brasil), Claudio Lottenberg avalia que desde o começo do conflito entre os dois países houve um cenário distorcido na interpretação das pessoas.
“O episódio começa com um ataque terrorista junto a civis, com a morte de 1.200 pessoas e sequestros de outros mais de 200 pelo Hamas. E as pessoas querem desde o primeiro momento que Israel faça algo absolutamente inaceitável sobre a lógica de defesa de um país, de um Estado, de uma população, que é não se defender. Queriam que Israel não tivesse esse direito à defesa”, avaliou.
Em sua análise, Lottenberg pontua que a questão dos reféns foi deixada de lado, e Israel, “que era o estado agredido, passou a ser entendido como um Estado que estava praticando crimes de guerra”.
“Ninguém conseguia lembrar nem dos reféns nem da base terrorista que motivou o conflito. Isso acelerou o antissemitismo no mundo, e as pessoas tiveram leituras equivocadas de um longo processo histórico. Tem que ficar patente que a troca está sendo feita por reféns [de Israel] que são civis inocentes, contra prisioneiros condenados [do Hamas] e em uma condição absolutamente desproporcional”, acrescentou.
Para o presidente da Conib, a ação do Hamas teve a intenção de expor, de “maneira vexatória”, os reféns que estavam sendo devolvidos no sábado.
“Ontem, a imagem era chocante, porque traz pessoas em um estado que se assemelha ao estado daqueles que ficavam em campos de concentração. Mesmo aqueles que não entendem de medicina ficaram chocados”, pontuou.
Para ele, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu apenas confirmou sua responsabilidade ao declarar que o episódio teria uma resposta de Israel. “É muito cedo, muito precoce [para saber o que será feito]. Mas é revoltante imaginar que isso tenha acontecido. Quando olhamos para o outro lado, os prisioneiros que estão sendo libertados [por Israel, estão] em condições de saúde normais. Israel, de novo, exerceu judicialmente o que tinha que exercer. [São prisioneiros que] foram condenados, mas ninguém foi tratado em condições subumanas”, garantiu.
Entenda
Após 491 dias em cativeiro, os reféns israelenses Eli Sharabi, Or Levy e Ohad Ben Ami foram libertados pelo grupo terrorista Hamas neste sábado (8).
As condições de saúde dos três são alarmantes, conforme relatado pelos hospitais que os receberam em Israel. A Dra. Yael Frenkel-Nir, diretora do Hospital Geral Sheba e chefe da equipe médica responsável pelo atendimento de Eli Sharabi, de 52 anos, e Or Levy, de 34, afirmou que os efeitos do longo período de cativeiro eram claramente visíveis.
Ela destacou que esta é a quarta vez que o hospital recebe reféns libertados de Gaza desde o início da trégua em 19 de janeiro, sendo esta a situação mais grave até o momento.
“A condição médica deles é precária, e desta vez está ainda pior”, declarou Frenkel-Nir em coletiva de imprensa. “Condições tão desumanas têm graves consequências para a saúde. Com base em nossa experiência, o cativeiro prolongado resultou em uma deterioração significativa de seu estado, e estamos profundamente e seriamente preocupados com aqueles que ainda permanecem sob o controle do Hamas.”
Ohad Ben Ami, de 56 anos, apresenta um quadro nutricional severo, segundo informações do Hospital Ichilov, em Tel Aviv. O subdiretor do centro médico, Gil Fire, afirmou que, na avaliação inicial, ficou evidente que Ben Ami retornou com “perda significativa de massa corporal e um estado nutricional crítico”.
A libertação dos reféns ocorreu como parte de um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, que incluiu a troca de 183 prisioneiros palestinos. Este foi o quinto intercâmbio desde o início da trégua.