Mãe tirou foto com filho minutos antes de bebê ser trocado em hospital

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Registro mostra que bebê tinha pulseira de identificação no braço. Meninos têm 3 anos e famílias só descobriram troca após a separação de um dos casais.

A mãe de um dos bebês que foram trocados no Hospital da Mulher, em Inhumas, Região Metropolitana de Goiânia, tirou uma foto com o filho biológico antes da troca. Yasmin Késsia da Silva deu à luz a um menino no mesmo dia que Isamara Cristina Mendanha, mãe do outro bebê. As famílias só descobriram a troca agora, quando as crianças já completaram 3 anos. A polícia investiga o caso.

Os partos aconteceram no dia 15 de outubro de 2021. Os meninos nasceram de cesarianas, realizadas simultaneamente por equipes médicas diferentes. Um deles nasceu às 7h35 e, o outro, 14 minutos depois, às 7h49.

Na foto, é possível ver que o filho biológico de Yasmin está com uma pulseira de identificação no braço esquerdo. O rosto do bebê foi colocado ao lado do rosto da mãe para o registro. A foto foi tirada pela própria equipe médica, de acordo com o advogado de Yasmin, Italo Camargo.

Em nota divulgada na quarta-feira (4), a administração do Hospital da Mulher informou que está oferecendo todas as informações e documentos necessários para investigação e que tem todo interesse em esclarecer os fatos (confira a nota na íntegra ao final da matéria). Na quinta-feira (5), a defesa do hospital disse que não irá prestar informações sobre o caso por se tratar de uma investigação realizada em sigilo.

Apesar da foto mostrar que pelo menos um dos bebês usava uma pulseira de identificação, nem Yasmin, nem Isamara se lembram se eles estavam com as pulseiras quando foram para os quartos.

Sem acompanhante

Os pais dos bebês afirmam que não puderam acompanhar o nascimento dos filhos por conta de restrições estabelecidas no período da pandemia de Covid-19. As mulheres não tiveram nenhum outro acompanhamento familiar durante os partos.

Yasmin e Isamara só se lembram de ver os filhos no quarto, depois que passou o efeito da anestesia.

“Eu acordei e o bebê já estava do meu lado, minha mãe estava dentro do quarto. Eu me lembro de relances”, narrou Yasmin Késsia da Silva. Ela disse que passou mal durante o parto e não se lembra do que aconteceu na sala de recuperação.

Já Isamara disse que chegou ao quarto antes do bebê, que foi levado até ela logo em seguida. “Eu levei a primeira roupinha do meu primeiro filho para colocar no segundo. E para mim, veio tudo certo [a roupinha do bebê]”, contou.

Yasmin Kessia da Silva, de 22 anos, grávida, à esquerda, e o filho que suspostamente foi trocado em hospital em Inhumas, Goiás — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Yasmin Kessia da Silva, de 22 anos, grávida, à esquerda, e o filho que suspostamente foi trocado em hospital em Inhumas, Goiás — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Descoberta

Yasmin Késsia da Silva e Cláudio Alves eram casados, mas se separam após cinco anos de união. O homem disse que não notava traços de semelhança entre ele e a criança e questionou a paternidade após a separação. Yasmin contou que ficou revoltada no início, mas que depois concordou em realizar o exame.

“Se ele não fosse filho do Cláudio, também não era meu”, disse Yasmin, que tinha convicção da paternidade da criança.

O resultado do exame saiu no dia 31 de outubro de 2024 e o laboratório chegou a repetir a análise.

“Eles disseram que o sangue do meu filho não era compatível com o meu. Eu pensei que era um erro. Mas veio a contraprova. Eu estava esperançosa que ia dar tudo certo, que ele era meu. Aí a gente pegou o laudo e viu que ele não era nosso”, disse Yasmin.

Isamara Cristina Mendanha e Guilherme Luiz de Souza denunciam que filho foi trocado em hospital de Inhumas, Goiás — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Isamara Cristina Mendanha e Guilherme Luiz de Souza denunciam que filho foi trocado em hospital de Inhumas, Goiás — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

A mãe contou que se lembrava de ver a outra família no hospital antes do parto, também aguardando para receber o bebê. Ela conhecia Guilherme de vista, por ele ser um professor conhecido na cidade.

Yasmin disse que sabia qual igreja que Guilherme e Isamara frequentavam. Ela procurou um pastor do local para contar sobre o caso e pedir ajuda. Eles decidiram que o pastor contaria a situação para a outra família.

“O Márcio [pastor da igreja] veio nos comunicar. De imediato, perguntamos o que fazer e fizemos o DNA. De lá para cá, praticamente tudo acabou”, declarou Isamara Cristina.

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil, como base no Estatuto da Criança e do Adolescente. Embora a Justiça deva determinar o futuro das crianças, as famílias declararam estar divididas.

“Esse erro mexeu com o destino das nossas vidas. Eu realmente não conhecia ninguém da outra família. Então, é um choque muito grande. Estamos sem chão e não sei como a gente vai fazer de agora para frente”, disse Cláudio Alves.

Isamara Cristina declarou que foram três anos cuidando de uma criança, e que eles têm um outro filho biológico agora. “Nós queremos aproximação e, a partir desse momento, ser uma grande família”, afirmou a mãe.

Pais tiveram bebês trocados após o nascimento em hospital de Inhumas, Goiás — Foto: Gilmara Roberto/g1 Goiás

Pais tiveram bebês trocados após o nascimento em hospital de Inhumas, Goiás — Foto: Gilmara Roberto/g1 Goiás

NOTA – Hospital da Mulher

O Hospital São Sebastião de Inhumas Ltda, informa que recentemente tomou conhecimento de uma situação envolvendo uma suposta troca de bebês ocorrida em sua maternidade há cerca de três anos. Assim que os fatos foram trazidos ao conhecimento da instituição pelos próprios familiares, medidas imediatas foram adotadas para garantir a apuração completa e transparente do ocorrido.

O hospital voluntariamente oficiou a Polícia Civil, oferecendo todas as informações e documentos necessários para que as investigações sejam conduzidas com rigor e imparcialidade. A instituição reitera que está colaborando ativamente com as autoridades e que tem todo o interesse em esclarecer os fatos e identificar qualquer eventual responsabilidade.

Por se tratar de um caso sensível e que envolve dados sigilosos, o processo de investigação está sendo conduzido em conformidade com a lei, resguardando a privacidade e o direito das famílias envolvidas. Nesse sentido, o hospital pede a compreensão da sociedade e da imprensa, reforçando o compromisso com a ética, a segurança e a transparéncia.

O Hospital São Sebastião de lnhumas reafirma o seu empenho em revisar e aprimorar continuamente seus protocolos de segurança, garantindo a qualidade e a confiança em seus serviços, tendo total interesse nas investigações realizadas.

Informa ainda que existe uma sindicância interna para apurar eventual erro ocorrido e seus responsáveis.

Ainda, por se tratar de um caso sensível que envolve menores de idade, bem como dados protegidos pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o hospital está legalmente impedido de fornecer informações detalhadas à imprensa neste momento.

Agradecemos a compreensão e reforçamos que todas as ações estão sendo conduzidas com o máximo respeito à privacidade das famílias e à legislação vigente.

Nota da Polícia Civil

A Polícia Civil de Goiás informa que a Delegacia de Inhumas – 16ª DRP investiga possível crime previsto no artigo 229 do Estatuto da Criança e do Adolescente (deixar o médico de identificar corretamente o neonato e a parturiente por ocasião do parto), em que dois bebês teriam sido trocados no hospital da cidade. O fato foi descoberto após um dos casais envolvidos resolver se separar, tendo feito exames de DNA que comprovaram que o filho não era biologicamente compatível com nenhum dos dois. Os envolvidos já foram ouvidos e o inquérito policial prossegue com diligências em andamento para esclarecer a dinâmica do fato e sua autoria.


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