Números revelam que um mesmo time pode ser mais popular entre integrantes de uma classe e menos em outra
O Flamengo tem a maior torcida do país entre os mais pobres e nas faixas de renda intermediárias, mas é superado pelo Corinthians entre os mais ricos, segundo dados numéricos da pesquisa O GLOBO/Ipec. O São Paulo, terceiro em preferência no quadro geral, se aproxima dos percentuais do rubro-negro e do rival paulista na faixa de maior renda.
Nos recortes de acordo com a renda familiar mensal, o Flamengo registrou 20,8% das menções dos que recebem até um salário mínimo — percentual é similar à sua média geral. Já no estrato de maior remuneração (renda familiar de cinco ou mais salários mínimos), a preferência pelo time carioca cai para 17,3%.
A maior preferência pelo Flamengo aparece na faixa de renda intermediária, dos que recebem de um a dois salários mínimos, com 25,9%. A partir daí, a presença cai gradativamente nos estratos mais ricos.
O Corinthians, por outro lado, viu seu percentual de torcedores subir à medida em que cresce a remuneração dos entrevistados. Entre os mais pobres, 12,8% das respostas citaram o time paulista; na faixa mais rica, o percentual chega a 20,1%.
O São Paulo segue trajetória similar à do rival paulistano, embora tenha maior presença na faixa mais pobre, até um salário mínimo, do que no estrato imediatamente acima. Os percentuais do tricolor aumentam até chegar a 15,1% entre os mais ricos.
Além das diferenças nos perfis de cada torcida, o aspecto socioeconômico de cada região ajuda a entender a concentração de torcedores de maior renda na dupla paulista. De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-Contínua) anual, do IBGE, metade dos brasileiros têm renda mensal de até R$ 810. No estado de São Paulo, esse teto dos 50% mais pobres sobe para R$ 1.096.
As diferenças na renda média entre os estados se refletem nos percentuais da população em cada uma das faixas retratadas pela pesquisa. Considerando o valor atual do salário mínimo, de R$ 1.212, e o tamanho médio das famílias brasileiras — três pessoas, segundo dados apresentados pelo Ministério dos Direitos Humanos em 2019 —, cerca de 50% dos brasileiros se enquadram em um perfil de renda familiar de até dois salários mínimos. No Sudeste, este percentual cai para pouco mais de 40%, numa estimativa com base na PNAD.
O Sudeste, portanto, tem mais torcedores que se encaixam nas duas faixas de renda superiores da pesquisa, isto é, com remuneração familiar acima de dois salários mínimos. Segundo o levantamento realizado pelo Ipec, as torcidas de Corinthians e São Paulo estão mais concentradas nesta região; a do Flamengo, por outro lado, aparece mais distribuída por outras regiões do país — os detalhes da distribuição regional dos torcedores serão publicados amanhã.
Palmeiras e Vasco, que aparecem entre as cinco maiores torcidas na pesquisa, têm presenças similares na faixa de renda mais pobre, mas com trajetórias distintas nos demais estratos. O Palmeiras, de modo similar aos rivais paulistas, cresce nas duas faixas superiores de renda. Entre os que recebem de dois a cinco salários mínimos, o alviverde chega a 8,5% das citações, assumindo o terceiro lugar do rival São Paulo.
O Vasco tem seu pior percentual entre os mais ricos (2,9%), e cresce na faixa imediatamente anterior, de dois a cinco salários mínimos (4,8%). Na faixa mais pobre, o cruz-maltino atinge percentual semelhante, com 5,2%. Neste mesmo estrato, o Palmeiras chega a 6,8%.
Nos dados segmentados, como renda, a pesquisa O GLOBO/Ipec apresenta dados numéricos que indicam tendências. Para maior precisão estatística, a distância entre dois dados precisaria ser de 5%. Nos números gerais, a margem de erro foi calculada especificamente para cada clube.