Tratamento elimina em um mês câncer de paciente que já não tinha mais esperanças

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Homem de 61 anos tinha um linfoma que não diminuiu com a quimioterapia e estava prestes a ir para os cuidados paliativos 

Um homem de 61 anos que sofria de um câncer sem perspectiva de melhora viu a doença desaparecer um mês após ser submetido a uma terapia inovadora. O publicitário Paulo Peregrino já tinha um histórico de cânceres — um de próstata, em 2010, e outros dois linfomas não Hodgkin, em 2018 e 2019.

Como o linfoma não diminuía e ele já havia sido submetido aos tratamentos até então disponíveis, os médicos consideravam colocá-lo em cuidados paliativos, ou seja, quando se evita o sofrimento do paciente até que ele morra.

“Quarenta e cinco quimioterapias que eu precisei fazer ao longo desses cinco anos. Fiz um transplante de medula. Nada adiantou”, contou.

Porém, ele acabou sendo escolhido para um tratamento que não está disponível a todos: o CAR-T, técnica desenvolvida no Hemocentro de Ribeirão Preto​/CTC-USP (Centro de Terapia Celular da Universidade de São Paulo), em parceria com a USP​ e o Instituto Butantan.

Em resumo, o procedimento envolve a retirada de células de defesa da pessoa com câncer e sua modificação genética em laboratório. Elas são recolocadas no corpo para destruir as células cancerígenas.

Dos poucos pacientes tratados com essa terapia no país, em 60% deles o câncer sumiu em apenas 30 dias. Foi o que aconteceu com o publicitário.

“O caso do Paulo, você desaparece [com] todo o tumor, e isso a gente tem que ter um acompanhamento. A gente sabe mesmo que depois de um certo tempo a doença pode voltar. Só se fala em cura mesmo do câncer depois de cinco anos. Porém, isso já é muito animador, porque não existia mais nenhum tipo de terapia para o Paulo”, revela o médico e pesquisador Vanderson Rocha, da Faculdade de Medicina da USP, que participou da equipe.

O tratamento com células CAR-T está disponível em poucos países e pode custar entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões. Além disso, só pode ser usado em alguns tipos de câncer, como linfoma, leucemia e mieloma. A aplicação para outros tumores ainda está em estudo.

Antes de chegar ao tratamento no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Paulo passou pelo Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, no qual fez duas coletas de células, mas elas não deram certo.

Em fevereiro, ele foi internado em estado grave em Niterói, onde mora, por problemas causados pelo linfoma. Somente quando se recuperou, em março, recebeu suas células tratadas na capital paulista.

Ele permaneceu desde então na UTI, foi para o quarto e, no último domingo, recebeu alta.

A terapia

Até agora, 13 pacientes já receberam o tratamento com células CAR-T no SUS, assim como Paulo.

“As células CAR-T são células do próprio paciente, são os linfócitos T. Esses linfócitos são os responsáveis por combater as infecções, mas também por combater o câncer, só que o câncer dribla essas células. Então, para poder combater o câncer, nós temos que modificá-las no laboratório. Então, essas células são retiradas do paciente. […] As células são modificadas geneticamente e são reinfundidas no paciente depois de aproximadamente duas a quatro semanas. Essas células que estão modificadas geneticamente para combater o câncer vão atuar em cima do câncer e destruí-lo”, explicou o médico.

O procedimento pode ser feito na rede privada, mas o caminho é outro.

“Já existe na medicina privada a possibilidade de fazer essas células, essas células são retiradas dos pacientes aqui, são enviadas para o exterior, são manipuladas e são infundidas. Já no caso do Pelegrino, tudo foi feito pelo SUS e pela pesquisa das células produzidas em Ribeirão Preto, pela Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo], pelo CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], pelo Instituto Butantan e pelo Hemocentro de Ribeirão Preto”, acrescenta o especialista.


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