Debate Biden x Trump: Após desempenho desastroso, crescem pedidos por outro candidato democrata
De acordo com analistas norte-americanos, o republicano Donald Trump, de 78 anos, atropelou o democrata Joe Biden, de 81, durante o primeiro debate presidencial das eleições de 2024 dos Estados Unidos. A postura de Biden foi criticada, já que ele simplesmente apagou em alguns momentos chave da noite. Antes do encontro, Trump mantinha uma vantagem de 10 pontos percentuais nas pesquisas, mas especialistas acreditam que ela pode ser ainda maior.
O desempenho frágil do presidente dos EUA, Joe Biden, no primeiro debate eleitoral com Donald Trump — descrito como “desastroso” e “doloroso” por integrantes do próprio Partido Democrata — fez com que a hipótese de uma troca de candidato antes das eleições de novembro ganhasse força no Partido Democrata, segundo analistas políticos e conselheiros da legenda, que falaram publicamente. Embora possível, a substituição é difícil, sobretudo sem contar com a vontade do próprio Biden.
Com voz rouca por causa de um resfriado, segundo assessores, Biden falou na quinta-feira de maneira hesitante e às vezes desconexa, um desempenho que renovou preocupações sobre sua capacidade de ocupar a Casa Branca por mais quatro anos. Posteriormente, Biden disse aos repórteres que permaneceria na disputa.
— Ele ficou mais forte à medida que o debate prosseguia, mas, nessa altura, penso que o pânico já se instalou — disse David Axelrod, antigo estrategista de campanha do presidente Barack Obama, à CNN. — E acho que você ouvirá discussões, que não sei se levarão à alguma coisa, mas haverá discussões sobre se ele deve continuar.
Biden pode ser retirado da disputa?
Sim, mas é muito difícil. Biden enfrentou uma oposição mínima nas primárias do partido e garantiu mais de 90% dos delegados que participarão da Convenção Nacional Democrata, que será realizada em Chicago, entre 19 e 22 de agosto. Embora não estejam obrigados, pela norma partidária, a apenas confirmarem a decisão das primárias, os delegados são escolhidos pelos próprios candidatos com base em sua lealdade e, uma vez reunidos na convenção, são os responsáveis por oficializar a candidatura presidencial — uma vez que, neste momento, Biden ainda é oficialmente um pré-candidato.
O caminho mais simples seria se Biden desistisse da candidatura antes da realização da convenção, uma vez que as reuniões partidárias não têm nenhum mecanismo que permita que qualquer líder ou instituição democrata remova um candidato e aponte outro em seu lugar. Conselheiros e analistas políticos próximos ao partido, como Van Jones, ex-assessor de Barack Obama, e Thomas Friedman, colunista do New York Times, argumentaram, após o debate, que Biden deveria abrir mão da candidatura e liberar os delegados que conquistou para votarem em candidatos que se apresentarem durante a convenção.
Na ausência de circunstâncias extraordinárias — e de um plano alternativo —, é improvável que Biden seja removido da chapa que concorrerá à Casa Branca. Qualquer desafiante de dentro do partido teria de anunciar sua candidatura antes da votação formal, desafiando publicamente o presidente, em uma tentativa de “golpe partidário” de alto risco. Também precisaria contar com uma traição dos delegados listados por Biden.
Quando uma decisão deve ser tomada?
Em breve. O Comitê Nacional Democrata tinha planejado antecipar a nomeação de Biden, confirmando sua candidatura por meio de uma videoconferência, antes da convenção presencial em Chicago. O motivo seria garantir o quanto antes as cédulas eleitorais com o nome do presidente para que ele pudesse constar nas votações antecipadas de Ohio, previstas inicialmente para 7 de agosto. Mas, apesar de legislatura de Ohio, liderada pelos republicanos, ter prorrogado esse prazo, o presidente do Comitê Nacional Democrata, Jaime Harrison, disse que o partido anteciparia a nomeação de Biden de todo modo, tornando a convenção uma mera formalidade.
E se Biden renunciasse após a convenção?
Neste caso, a decisão de substituí-lo seria tomada pelos membros do Comitê Nacional do Partido, restrita a poucas centenas de membros. Esse caminho enfrentaria outro obstáculo: as cédulas já impressas com o nome de Biden. Como as regras eleitorais variam de estado para estado, não está claro como os votos depositados antecipadamente nas urnas para Biden seriam contados se ele não fosse mais o indicado. Provavelmente, iriam para seu substituto quando o Colégio Eleitoral se reunisse.
Quem são os possíveis sucessores?
A vice-presidente Kamala Harris seria a herdeira mais lógica, mas não seria algo automático. Outros candidatos nos bastidores — que cederam a Biden e continuam a apoiá-lo publicamente — incluem o governador da Califórnia, Gavin Newsom, o governador de Illinois, J.B. Pritzker, e a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer. Nenhum desses candidatos apresenta melhores resultados contra Trump do que Biden, de acordo com uma pesquisa da Bloomberg News/Morning Consult em sete estados decisivos.
E quanto ao dinheiro?
As campanhas presidenciais americanas são empreendimentos extremamente caros, e o financiamento dessas despesas são uma parte importante do todo. A campanha e o partido de Biden tinham US$ 212 milhões (R$ 1,17 bilhão) em dinheiro no final de maio, e esse recurso estaria disponível para Harris caso ela assumisse o controle da chapa. Qualquer outro candidato provavelmente teria de começar do zero.
A campanha de Biden e o Partido Democrata já gastou cerca de US$ 346 milhões (R$ 1,9 bilhão) tentando reelegê-lo. Escolher outro candidato poderia exigir gastar ainda mais dinheiro para apresentar o novo nome aos eleitores.
Existe algum precedente?
Mais ou menos. Em 2016, os dois partidos ameaçaram trocar seus então candidatos — Donald Trump e Hillary Clinton —, mas nenhum prosseguiu com o plano.
O exemplo mais próximo é o de Lyndon Johnson, que, então presidente em 1968, decidiu não aceitar a renomeação para um segundo mandato completo, à medida que protestos contra a Guerra do Vietnã cresciam. Em um discurso no Salão Oval, Johnson fez o anúncio surpresa de que não procuraria, e não aceitaria, a nomeação do partido para outro mandato como presidente.
Mas isso foi no final de março, e em um período em que não existia o calendário de nomeações moderno. Ao contrário de Johnson, Biden já garantiu delegados suficientes para a nomeação. (Com Bloomberg)