Fazendeira e ruralista, Simone Tebet perde aliados no MS ao se afastar do bolsonarismo…

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Proprietária em região de conflito com os Guarani-Kaiowá, senadora já defendeu indenizações em dinheiro para fazendas em áreas indígenas e suspensão de demarcações

Simone Tebet não herdou apenas o legado político do pai, o ex-ministro e ex-presidente do Senado Ramez Tebet. Falecido em 2006, Tebet deixou aos quatro filhos uma fortuna em imóveis no Mato Grosso do Sul, entre os quais estão três fazendas, uma em Três Lagoas, outra em Fátima do Sul e uma terceira em Caarapó, a Santo Antônio da Matinha, de 860 hectares, no extremo sul do estado, registrada entre os bens da senadora pelo modesto valor de R$ 457 mil. 

Segundo o Conselho Missionário Indigenista (Cimi), o imóvel faz parte de uma grande extensão de terras reivindicadas pelos índios Guarani-Kaiowá, a Tekoha Pincorock, na Terra Indígena (TI) Amambaipeguá, em Caarapó.

A portaria que daria início à demarcação e à homologação, elaborada pela Funai, foi publicada no final do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, mas engavetada nos governos posteriores. Na área estão cerca de 80 fazendas cuja posse é questionada pelos indígenas.

As terras da senadora integram o circuito dos históricos conflitos entre ruralistas e indígenas, que no dia 24 de junho passado, em Amambai, no sul do estado, resultaram na morte de Vito Fernandes, de 42 anos, e outros oito feridos, por uma tropa de choque da Polícia Militar (PM) do Mato Grosso do Sul, numa operação legalmente questionável, já que a atribuição de atuar em conflitos envolvendo indígenas é da Polícia Federal (PF).

Caarapó foi palco também de outros ataques: um deles, em junho de 2016, na fazenda Yvu, que fica na mesma área das terras de Simone Tebet, onde um grupo de fazendeiros, ocupando mais de 40 caminhonetes, disparou contra indígenas, matando um deles, Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza, de 26 anos, e deixando outros oito feridos.

Como senadora, Simone Tebet também se colocou contra as reivindicações dos Guarani-Kaiowá. Uma publicação do Cimi, de setembro de 2018, lista Simone Tebet entre os 50 parlamentares, 10 senadores e 40 deputados, que mais atuaram contra os direitos indígenas no Parlamento.

Desde que se consolidou candidata, a senadora Simone Tebet procura passar uma imagem mais “ambientalista”, numa estratégia que tem rendido mais dissabores do que resultado. Há poucos dias, sua assessoria foi bloqueada pela Wikipédia, ao tentar mexer em seu perfil, acrescentando trechos sobre suas propostas. 

A mesma tentativa teria sido feita com o Cimi, onde, segundo a entidade, assessores dela pediram, sem sucesso, que seu nome fosse retirado da publicação em que é citada entre os parlamentares contrários aos direitos indígenas.

O problema é que o histórico de vida pública inclui a senadora no grupo que defende e mais se beneficia do ruralismo.

O levantamento do Cimi sobre as doações que a então candidata ao Senado recebeu em 2014 aponta, com base na lista do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, de um total de 3 milhões de reais recebidos para a campanha ao Senado, 2 milhões são originários dos grupos ligados ao agronegócio que ela defende.

Segundo registrado na página de doadores do TSE, as maiores contribuições foram da JBS (R$ 1.720,000,00), Iaco Agrícola (R$ 700 mil), Rio Claro Agroindustrial (R$ 300 mil), Usina Eldorado (R$ 70 mil), Construtora J. Gabriel (R$ 70 mil) e Copersucar (R$ 50 mil).


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