Especialista diz que ‘cara de Ozempic’ é algo esperado quando se perde muito peso em um curto período
Diversas mulheres que fazem uso das chamadas canetas emagrecedoras têm desabafado recentemente no TikTok sobre o que chamam de “cara de Ozempic“, em referência a um desses medicamentos. Elas se queixam que o tratamento as deixou com um rosto mais envelhecido.
Os relatos começaram em dezembro, nos Estados Unidos, e agora a mídia foi tentar entender o que pode estar por trás disso.
Em entrevista à emissora de TV americana ABC News, a dermatologista Elizabeth Houshmand disse que a queixa tem chegado aos consultórios com frequência.
“É definitivamente uma coisa real e não apenas algo que está no TikTok. O que os pacientes reclamam é: ‘Meu rosto parece muito magro, perdi muito volume no meu rosto”, afirmou.
Segundo a especialista, as pessoas que perdem peso com injeções de Ozempic, Saxenda, Wegovy e Mounjaro vão ao consultório em busca de um afinamento facial.
“Os pacientes estão com menos fome, comendo significativamente menos, perdendo grandes quantidades de peso em um período muito curto. E é por isso que você vê a aparência esquelética ou a ‘cara de Ozempic'”, complementou a médica.
O processo é normal quando se perde muito peso em pouco tempo, principalmente em pessoas entre 30 e 50 anos.
“A gordura no rosto é uma coisa muito boa. Quando somos jovens e saudáveis, temos uma boa quantidade [no rosto] por causa dessa gordura subcutânea. À medida que envelhecemos, perdemos ossos, perdemos gordura, normalmente. Então, se você está acelerando esse processo, vai levar a uma aparência envelhecida e oca”, observou a dermatologista.
O que são as canetas emagrecedoras
Os medicamentos usados para emagrecer surgiram inicialmente para o tratamento de diabetes tipo 2 — alguns continuam tendo somente essa indicação, mas são usados off-label (sem recomendação em bula) para a perda de peso.
Descobriu-se com o tempo que, de fato, eram princípios ativos que auxiliavam na perda de peso, o que fez com que fossem criadas versões especificamente para o tratamento de obesidade e de sobrepeso em pessoas com doenças associadas.
Nos Estados Unidos, há mais opções de drogas, como o Mounjaro, cujo princípio ativo é a tirzepatida, e o Wegovy (semaglutida). Esse último foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas ainda não há previsão de chegada ao Brasil.
A única injeção disponível no momento aqui é o Saxenda (liraglutida). Porém, há médicos que prescrevem o Ozempic (semaglutida), mesmo com o fabricante dizendo que ele se destina somente ao tratamento de diabetes.
O tratamento de um mês com Ozempic chega a custar R$ 900. O Saxenda, em torno de R$ 600.
O Wegovy é uma versão com doses mais elevadas de semaglutida e que tem um esquema próprio de escalonamento para o tratamento de obesidade.
Mas nem todo mundo que faz uso dessas injeções tem indicação — elas são vendidas sem receita médica.
Esses remédios “imitam” um hormônio que nosso intestino libera após as refeições e que atua nos receptores do cérebro que controlam o apetite, a sensação de saciedade e a fome, o GLP-1.
“Existe uma região do cérebro chamada hipotálamo, em que a gente tem o centro de controle do apetite. Então, tem centros de fome e saciedade. A semaglutida atua especificamente nesses centros, para aumentar a saciedade e reduzir a fome — por isso os efeitos na redução de peso”, explicou recentemente a endocrinologista Priscilla Mattar, diretora médida da Novo Nordisk no Brasil, fabricante do Wegovy, Saxenda, Ozempic e Victoza, os dois últimos para diabetes tipo 2.
Apesar de algumas pessoas experimentarem perda de peso com essas drogas, o uso inadvertido pode provocar uma série de efeitos colaterais.
Especialistas ressaltam que quem não tem indicação pode apresentar mais sintomas desagradáveis.
Os principais são enjoo, diarreia, vômito, constipação, dor abdominal, refluxo gastroesofágico, gases, arrotos, hipoglicemia, fraqueza e dor de cabeça.