Gigante quer produzir 50% da celulose mundial em MS, mas moradores temem nova ‘quebradeira’

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Projeto “Sucuriú” é audacioso e promete consolidar a produção da fibra no país, porém, quem mora na região teme problemas semelhantes aos que ocorreram em Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo.

Em momento de busca pelo licenciamento ambiental, a Arauco Celulose do Brasil S.A. pretende produzir 2,5 milhões de toneladas em Inocência, no leste de Mato Grosso do Sul, o que representa 50% da capacidade mundial de celulose. O projeto “Sucuriú” é audacioso e promete consolidar a produção da fibra no país, porém, quem mora na região teme nova “quebradeira”, a exemplo do que ocorreu em Três Lagoas e em Ribas do Rio Pardo, com incremento populacional em pouco tempo e colapso dos serviços ofertados na região.

Desde o anúncio do empreendimento, no ano de 2022, trabalhadores estão chegando na cidade e fazendo os inocentinos perceberem uma mudança de comportamento, de uma “cidade pacata” para um local onde é difícil achar até estacionamento para o próprio carro.

“Tem um pessoal grande da Bahia que chegou agora. Tem o alojamento deles lá, só que muitos enjoam, não querem morar com os outros e ficam procurando casas para morar. E achar casa aqui sempre foi complicado. E, como eu tenho cinco kitnets para alugar, é de duas a três ligações por dia procurando casa. Outra coisa é vaga para estacionar. Tá bem difícil achar vaga na cidade para parar o carro, tudo cheio”, afirmou ao Jornal Midiamax a empresária Divanda Nunes de Freitas Garcia, de 54 anos.

‘Querem trazer esposa e filhos para cidade’, diz empresária

Segundo a empresária, os trabalhadores alegam que não querem mais dividir alojamento com o colega, “enjoam” pela falta de privacidade e também falam e “trazer a esposa e filhos” e, por isto, buscam imóveis na cidade. “Sempre falam que querem ter o seu espaço e aí, com tanta procura, fica sem casa para todo mundo. Aqui é uma cidade pacata, tranquila, então, vai precisar organizar. A questão do estacionamento posso dizer que já está um caos”, comentou Garcia.

Produção de celulose (Freepik)

Recentemente, a empresária acompanhou a audiência pública que apresentou os estudos feitos na região, mostrando os impactos ambientais e sociais do novo empreendimento.

“Fui na audiência e lá falaram que vão alojamento, posto de primeiros socorros, então, precisamos esperar e ver como vão proceder em 2025. O prefeito falou que vão construir mais de 200 casas, em parceria com o governo do Estado, então, está todo mundo bem avisado e com os exemplos de Três Lagoas e Ribas. Vamos esperar para ver”, opinou.

A gerente administrativa de um hotel na região, Rita Rosângela dos Santos, de 50 anos, ressaltou que o local sempre teve lotação máxima, então, ainda não é possível mensurar como está sendo o impacto da chegada dos trabalhadores.

“Por enquanto, eu não vejo grandes mudanças. Aqui o comércio e a cidade sempre foi parado, é bem pacato, mas, acredito e penso que será algo positivo. “Falam que vai quebrar a saúde aqui, mas, isso é algo que nunca tivemos por aqui. Educação também é outro problema. Hoje mesmo, meu filho foi estudar na quadra de esportes porque a escola foi para reforma e ele voltou de férias e mandaram para lá, então, já é algo precário. O que eu espero é que o governo volte os olhos para cá com essa obra e melhore as coisas pra gente também”, disse.

Moradores perguntaram sobre prostituição, entre outros assuntos

Além destas questões, moradores da região e até de outras localidades, também aproveitaram a oportunidade para perguntar o que será feito para evitar a prostituição infantil, como será a política de resíduos sólidos sem um aterro sanitário, a se a contratação será somente de pessoas de fora e também se quem tem mais de 40 anos terá oportunidade de trabalho, como será o atendimento de saúde destes trabalhadores, já que a expectativa é contratar de 9 a 12 mil pessoas e, por último, se ocorrerá o mesmo cenário de Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo, com projetos audaciosos, porém, com falhas na execução.

Segundo o diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios da Arauco, Mario José de Souza Neto, que apresentou o projeto durante audiência pública no município, haverá “impacto bastante relevante”, pois, se trata de um “projeto extremamente estratégico” e que hoje “direciona todos os esforços e energia da empresa”.

Diretor ressalta que Arauco vai plantar em 285 mil hectares

Arauco apresentou projeto aos moradores de Inocência. (Reprodução, redes sociais)

Em termos de floresta, serão 285 mil hectares plantados, sendo que isso vai aumentar em 25% a área plantada em todo o mundo, ainda de acordo com o diretor.

Para isto, ocorrerão investimentos em duas fases: R$ 14 bilhões na primeira, que resultará em 2,5 milhões de toneladas de celulose e mais R$ 14 bilhões na segunda, tendo como objetivo o mesmo resultado de produção.

A empresa chilena nasceu há quase 50 anos, em um projeto de reflorestamento de áreas degradadas devido a exploração do salitre no Chile. Desta iniciativa, de recuperação do solo chileno, o local tornou-se potência florestal e de produtos florestais, expandido os escritórios comerciais e instalações industriais pela América do Norte, Sul e a Ásia, se tornando a 2ª em capacidade de celulose no mundo e a 2ª em capacidade de painéis do mundo.

Inocência será polo estratégico de operações, afirma Arauco

Audiência Arauco ocorreu neste mês de agosto, em Inocência – MS. (Reprodução, redes sociais)

No Brasil há 20 anos, opera no negócio de painéis florestais e pretende tornar Inocência um grande polo estratégico de operações. O início do Projeto Sucuriú está previsto para 2025 e, em 2028, a Arauco monta a sua start up. A previsão é que a atual população de Inocência, de cerca de 8 mil habitantes, chegue a 12 mil em 2026 e triplique até 2050.

Para mitigar os impactos, foi feito o EIA (Estudo de Impacto Ambiental) em Inocência, lido durante audiência pública. Entre as informações relevantes está o fato do estudo ter revisitado projetos anteriores, na mesma envergadura, como o de Suzano e Eldorado.


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