‘Vamos matar vocês’: crianças sequestradas pelos terroristas do Hamas relatam o que viveram

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Abusos vão desde violências psicológicas, como ameaças, até agressões físicas; reféns ficaram mais de 50 dias longe de casa

Dafna e Ela Elyakim, de 15 e 8 anos, respectivamente, ainda são jovens, mas viveram o suficiente para conhecer a maldade do mundo. Feitas reféns pelos terroristas Hamas e libertadas no último domingo (26), elas contaram à avó as atrocidades que ouviram durante os dias no cativeiro. As três se reencontraram no Centro Médico Infantil Schneider, pouco depois de serem libertadas do cativeiro e terem retornado a Israel.

“Os terroristas disseram a elas: ‘Nós sabemos onde vocês moram e vamos matar vocês se contarem onde foram mantidas prisioneiras'”, afirmou a avó das meninas à TV estatal israelense Kan 11. Ela acrescentou que as netas ainda estavam muito assustadas.

Dafna e ela voltaram de férias da Turquia em 6 de outubro, um dia antes do ataque terrorista que marcou a história de Israel. No dia seguinte, foram levadas pelo Hamas em um carro que pertencia ao pai delas, Naam, que também foi capturado pelos terroristas e continua em cativeiro.

A comida fornecida a Dafna e Ella era simples: principalmente arroz, macarrão e feijão. No início, a caçula se recusava a comer, mas a irmã mais velha aconselhava: “Se você não comer todos os dias, acabará morrendo de fome. Precisamos voltar para casa”. 

A violência no cativeiro não foi só psicológica, mas também física. A prima de Eitan Yahalomi, de 12 anos, outra criança feita refém pelos terroristas do Hamas, contou ao jornal israelense Yedioth Ahronoth que ele “sofreu horrores”. Eles o teriam espancado e o forçado a assistir a vídeos do ataque de 7 de outubro, em que 1.200 israelenses foram brutalmente assassinados. As crianças não podiam chorar, caso contrário eram ameaçadas.

No Hospital Ichilov, onde Eitan foi tratado, a avó do menino, Esther Yahalomi, relatou que ele passou 16 dias sozinho em um quarto fechado. Depois, os terroristas o transferiram para um local com um grupo de pessoas de Nir Oz, um dos kibutzim atacados. Ele voltou “mais magro”, “sem sorrir”, mas aparentemente saudável.

“Apesar de tudo por que Eitan passou, ele mostrou sua maravilhosa personalidade no cativeiro — e essas são histórias de mães que estavam lá. Ele ajudou as crianças pequenas, desenhou com elas, as abraçou e se certificou de que estivessem bem”, afirmou Esther.

Trauma

Thomas Hand, pai de Emily, de 9 anos, outra criança libertada nesta semana do cativeiro em Gaza, contou em entrevista à CNN que Emily perdeu muito peso e estava muito pálida. Este não foi, porém, o aspecto mais chocante percebido durante o reencontro.

O pai destacou a maneira como a filha se acostumou a falar o mais silenciosamente possível, conforme os terroristas a forçavam no cativeiro. Na primeira noite após ter sido solta, ela cobriu a cabeça e chorou silenciosamente, como se não pudesse extravasar.

“Ontem à noite, ela chorou até que seus olhos ficassem vermelhos, ela não conseguia parar. Ela não queria nenhum consolo; acho que ela esqueceu como ser consolada. Ela se enfiou debaixo do cobertor, cobriu a cabeça e chorou silenciosamente”, afirmou Hand, que esperou até que Emily estivesse pronta para abraçá-la. “Ela é uma criança muito determinada, muito forte, eu sabia que seu espírito a levaria por isso.”

Em um primeiro momento, Hand imaginava que Emily tinha morrido de forma rápida e indolor, depois que ela desapareceu durante o ataque-surpresa do Hamas e seu corpo não foi prontamente encontrado. Cerca de um mês depois, ele descobriu que, na realidade, a filha era uma das centenas de pessoas mantidas reféns pelo grupo terrorista palestino.

Em entrevista à agência de notícias Reuters, Hand compartilhou os vários planos que tinha com Emily. Ele afirmou que, assim que a filha estivesse em casa, se certificaria de levá-la ao próximo show da Beyoncé e ao parque da Disney. 

“Vou gastar todo o meu dinheiro, cada centavo que tenho para dar a ela diversão para compensar tudo o que ela perdeu e tudo o que ela está passando”, disse o pai, lutando contra as lágrimas. “Vou dar o mundo a ela.”


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